terça-feira, 30 de outubro de 2007

Medo do Mar
Netuno oposição Vênus e Ascendente – 1º de novembro de 2003

foto: Pablo Fabián - 2007

Medo do mar
Medo do ar
Do vento
Do tempo

Medo ao relento
Deixado a contento
Guardado em fermento
Relapso momento

Medo profundo
Lembrança que afunda
Medida imprecisa
Imagem turva

Medo do nada
Frio enfadonho
Lembrança difícil
Recado do sonho

Medo da perda
Perda de nada
Nada no mar
Mar de lembranças

Medo de hoje
Sal do passado
Tempo esquecido
Abandonado

Medo do medo
Astro em quadrado

Filtra o futuro

Deforma o passado

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Minha amante
...medo de perder-te... – 1986

foto: Pablo Alejandro Fabián - 1974

Do recanto ao canto,
Teu canto reticente,
Teu encanto borbulhante.

A luz que se apodera de minh’alma,
Vem, retruca e até acalma,
O borbulhar de minha euforia incandescente.

Entranha em minha mente,
O medo de teu relutante vacilo,
O medo do vazio que me acompanha
Doente, constante, demente.

A justiça de teus olhos,
Peca cega, fugitiva, indecisa,
Teus lábios beijam rubros,
Momentos de silêncio,

O medo mórbido de tua retirada.

Os gabinetes silenciosos
tinta verde -
inverno de 1977

foto: Pablo Fabián - 1974

As pirâmides frias e pacientes
Repousam seus olhos nas areias escaldantes
As miragens se confundem
A realidade é árida
O espaço é o tempo
O silêncio dos detalhes é reduzido pelas sombras
Seus desejos e medos soam cristalinos entre um vento e outro
Sobram os que amam
Os que desejam
Os que só enxergam o que existe
Uns sorriem,

Outros são tristes.

domingo, 21 de outubro de 2007

Santo das trevas
súplica – novembro de 1986


foto: Pablo Fabián - 1988

Consciência, esta, que retratas, todos os dias.
Carismático ser de asas negras,
Epidêmico sentido,
Devastador de almas,
Guardião da rebeldia.

Ao dia claro vacilas
Sucumbes com a noite
O amanhecer do dia

Teus reflexos são estrelas
Teus movimentos dominam

Iluminado ser da noite,
Carismático ser de asas negras,
Asmodeu será teu guia?

Dor, esta, a que não sucumbes
E te ilumina a rebeldia,
Santo das trevas

É Deus que te guia.

O ego nosso de cada
regurgitar do trovão – verão de 1984

foto: Daniel de Andrade - 1992

Meu ego pedaço, meu laço com a vida,
Meu ego verdade, talvez sucumbida,
Meu ego inflado é quem me sufoca,
Deixado de lado é dor é derrota.

Reviso meu lastro, meu resto de vida,
Retrato de vida, passada, vivida,
Meu resto meu trapo, meu laço sufoca,
Inflado meu lastro, meu ego é derrota.

Laçando o pedaço, inflando o retrato,
Passando a derrota na ponta do laço,
Deixado de lado meu ego inflado,

Meu rastro, meu laço, derrota é vida
.


sábado, 20 de outubro de 2007

O tempo do tempo
...lúcidos alucinógenos... década de 80


foto: Marco Quintana - 2007

Existem momentos, que são
Maiores que dias ou até meses.
A gente acorda na janela
E a luz nos sai dos olhos,
Como fachos de felicidade.
Existem dias que a gente nem acorda
E depois, nem vai dormir.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A forma do tempo
...lúcidos e disformes... – 1986




foto: Pablo Fabián - 1978

“O demônio fugiu da forma. Sacrificou-se tanto que, quase, voltou ao céu canonizado. Pobre demônio perdido em seu pecado”.

O cubo em si era incomodo.
Jogou-se numa pirâmide de lata,

Mas o barulho da lua o fazia chorar.

Quem resistiria ao incrível poder de sedução deste coiote?

A cratera clara em seu peito sangrava as carências do passado.

Quanto tempo havia passado?

Quantos lados tinha esse tempo?

Em quantos tantos de tempo sorria o que estava enterrado?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Estreito, restrito, retrato de um grito

...pouso noturno... – 07 e 19 de abril de 2004

foto: Pablo Fabián - 1975

Ávido abismo
Lírio vestido
Jorros da alma
Sonho assistido

Julgas pecados
Sonho vestido
Jogos profanos
Vício assistido

Lírica alma
Vício vestido
Sonho profano
Jogo assistido

Turvas quimeras
Trechos perdidos
Sonho do Vício
Lírio Assistido

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sentimentos esféricos

...Coca-Cola e LSD... – 1976


foto: Pablo Fabián - 1977

Enjaulado num pavilhão do tempo
Sentia o borbulhar dos pensamentos
Fugindo além das paredes

O cheiro da natureza

sombras de um dia de chuva – 1980


foto: Pablo Fabián - 1975

Olhei pro retrato dela
Com cansaço e desalento
Não é que não tenha tempo
Ou que ache a vida fácil
É que quando sinto o vento
Me revirando o cabelo
Revivo num atropelo
Meu passado constrangido
Talvez por eu ter fugido
Por não ter valido a pena
Guerrilheiro em quarentena
Funcionário da querência
Que até por ter competência
Acha graça da tristeza
Olhando o dia de frente
A favor da correnteza.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dos sonhos que sonhei
como é que não vais gostar de mim, se te abro assim a alma – 1985


foto: Pablo Fabián - 1979
Já perdi a conta dos sonhos que sonhei
Mas, ainda vivo seus enredos.
Justificativas não existem
Pode haver mistérios
Junto a este sonho rotundo
Organizo e mistifico os fatos.
Jurei, certa vez, a mim mesmo
Nunca moralizar às vivências
Jorraram vivências.
E São Francisco me acuda
Tentei não cataloga-las.
Juro que tentei
De todas as formas

Mas, foi em vão.

Pintô, tem que curtir!
das linhas de um desenho - uma noite de 1978

arte: Pablo Fabián - 1972

Naturalmente, sinto que vai fluindo
E mesmo que não transpareça algum sentido
É muito bom aproveitar o fluxo
E curtir o que pinta

Perda
putrefactas lembranças - verão 1985


foto: Pablo Fabián - 2005

Uma vez, perdi um bagre
Era um bagre pequeno, sem dúvida
E ficou, do lado de baixo do banco
Do banco do carro, duma velha Belina
Velha e acabada
Pois bem, o bagre fedeu
Fedeu tanto, que deu pra sentir no outro dia
Sobre o bagre inerte, uma multidão de moscas verdes
Banqueteavam-se e desovavam em volúpia
Interferi e arremessei o bagre aos ares
O bagre bichado
Colônias de vermes se apossaram das imediações do banco
Do banco do carro
Da velha Belina
Marrom metálico carcomido
Usei detergente, desinfetante
E dei tempo ao tempo
Os vermes morreram
E ali se integraram, fétidos aos odores químicos dos desinfetantes
Aromatizados artificialmente com uma mescla azeda e doce
Batizada de odor-maçã
Dos restos do peixe
Putrefacto e descaracterizado
Mais a mescla dos vermes aromatizados
Surgiu mais uma cultura possibilitando a gênese
De imperceptíveis demônios
Produtos da carne putrefeita
E dos mais nefastos vermes varejeiros
Já nauseabundo, deixo a porta, janelas e ventarolas abertas

Na esperança...

domingo, 14 de outubro de 2007

Sin apuro
“insights” – 1989

foto: Pablo Fabián - 1981

No te apures domingo,
Que hoy, todavía es sábado.
Y solamente al lunes descansarás.

sábado, 13 de outubro de 2007

Buscas
onde reside meu sucesso? – 1985


foto: Pablo Fabián - 1991

Fui buscar o futuro
Encontrei um futuro que se dizia o certo
E lhe perguntei:
Em que pedaço do espaço está o meu sucesso?
O futuro me disse que fosse virtuoso e fosse Cortez
Que o sucesso estaria a minha espera onde quer que eu fosse.
O futuro me deixou mais atado ao passado do que o próprio presente.
À medida que compreendia o que me houvera dito
Estava o dito pelo não dito
E era como se me houvesse, o maldito, nada dito.
Segui vagando pelas escadarias e labirintos do meu passado
Tentando encontrar, realmente, o futuro
E o encontrei olhando às nuvens
Perguntei-lhe o que me reservava.
Disse que me sentasse e quando ele a mim chegasse
Eu notasse ou perguntasse.
Segui caminhando e falei com uma fração do tempo
E antes que eu pudesse perguntar
Ela passou correndo e me disse que eu parasse de procurar
Pois, senão, jamais encontraria

Era o presente....

Don Pablo Fabian.
foto: Romualdo Rurico Resquin Sicco - 1977
Tenho gostado do seu blog. Tomarei precauções no que doravante passarei a escrever ou dizer quando este dizer ou escrever se refira ao amigo portenho. Observo no seu blog uma quantidade razoável de boas fotos da sua, minha e de outras autorias. A foto do Ze e Pablo é de 1990, se não for de 1990 é de 1990.Procurei a carta resposta mas não encontrei, anunciar simplesmente basta? Anunciar já é a resposta ?
Fica o dito por não dito? Esperar não é ficar à espera ?
Seus versos biliares continuam a la Pablo diverticulite. Digo, sempre gostei da sua criatividade e desprendimento, sempre nos levam a concluir, seria o poeta um poeta, seria o poeta muito doido ou, poetar não tem limites ?
O bom de tudo é que existem várias faces na cara do poeta, do fotógrafo, do professor e do fiodeumaégua.
Tenho visto fotos de quase toda sua família, nunca foto da D.Maria Del Carmo, digo, da sua mãe. Se eu fizesse um blog a minha também não constaria. Diga-me lá, "viajarão juntos o caixão e o defunto?" ...
Consulta, quer abrir espaço para fotos ?
Há braços há pernas,
Daniel de Andrade-Gaia


Amigo amado e irmão de alma....

foto: Pablo Fabián - 1981

Daniel de Andrade tem sido um apoio (como sempre em minha vida) na elaboração descuidada e desregrada deste blog. Ele adora descuidos e negligencia às regras. Buscamos e vão a carta que me enviou que gerou "Oclahoma sem destino" e assim, não podendo apresenta-la, Daniel me envia uma contribuição atual, que data do século retrasado referente a Dona Safira que em parte tem a culpa de sua existência.

Pablo Fabián

para ver Daniel de Andrade: www.saitica.blogspot.com

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ananóias
... – 20 de novembro de 2001

foto: Daniel de Andrade - 1992

Ananóias sempre fora um bom profeta. Mesmo naqueles invernos de turvar a visão ele era certeiro. A riqueza de detalhes era colossal.
Lembro, certa vez, quando ele convalescia do primeiro acidente de escada rolante, ao me ver, pegou delicadamente minha mão e citou, murmurando, um longo poema, em armênio antigo, que falava da importância de sermos apenas e com toda a intensidade, unicamente, o que somos. Fiquei perplexo com a exatidão das palavras que refletiam exatamente o seu sentimento ao cair magnificamente da escada rolante da Mesbla.
Voltei pra casa com aquelas palavras retumbando em minha mente e tudo que eu via era a cara do Ananóias balbuciando, entre pequenos gemidos, aquela jóia do pensamento armênio. Liguei imediatamente para a Lurdette, pois havíamos combinado almoçar juntos, e contei-lhe em poucas palavras o conceito profundo do poema entrelaçando com o ocorrido ao Ananóias. Ela ficou muda, pensei: celular ainda não existe por tanto não pode ser a bateria, - “Lurdette, Lurdette, você ainda esta aí?”
Muitos anos se passaram e Lurdette, então, não fazia mais parte de minhas preocupações. Há alguns anos encontrei o Libório e soube por ele que Lurdette havia casado e estava morando na Bélgica. Achei estranho, pois ela odiava a Bélgica. Num instinto investigativo fui buscar alguma pista nos álbuns de fotografias. Lurdette rindo, fazendo caretas, nua dormindo, cozinhando, nós dois no Parque Saint Hiliaire, o verão de barraca em Magistério, mas nada que pudesse me dar uma indicação de não sei o que.
À noite acendi uma ponta, que a Josianne havia deixado no cinzeiro, e liguei a TV. Para minha surpresa lá estava o Ananóias, no programa da Yvete Brandalise sendo questionado por seu perseverante hábito de cair de escadas rolantes. Ele estava todo enfaixado, seu lábio inferior um tanto inchado provocava um sibilar irritante, mas, mesmo assim fiquei fascinado por aquela magistral presença, ali na minha casa, dentro de minha TV. Por uns momentos fiquei viajando, sem prestar atenção ao que dizia, pelas ardilosas lembranças de nossas memórias. Ananóias teve um papel importante no meu discernimento.
Levantei o volume e fui até a cozinha pegar algo para comer quando escuto aquele familiar poema armênio dito, não murmurado balbuciantemente como da última vez e sim, numa versão sibilada.

Mais uma vez me impactou profundamente e foi no meio desse impacto que a Josianne chegou. Jogou as coisas sobre a mesinha da sala e veio com um sorriso cansado me dar um beijo de “oi”. Não consegui corresponder e contei-lhe sobre o Ananóias enquanto a
TV tentava me vender um “super ultra plin-plin-plin plus versão máster”,....................

OCLAHOMA SEM DESTINO

carta resposta para Daniel de Andrade ..... 23 de agosto de 1999


foto: Pablo Fabián - 1974

Quem detêm o para-plexo, do reduto sem reflexo, tem no peito uma quimera, escorrida como hera bem debaixo dos narizes.
Nas campinas e outros pagos, tenho visto com meus olhos, coisas que a boca nada diz. Coisas de torcer o nariz.
Entretanto a nuvem baixa, se entrelaçando com o campo, como um tango retorcido ou um punhado de fumo. No escuro ou manhãzinha lembro o frio de uma calçada que não fosse a parceria, hoje em dia lembraria como triste e medonho. Já passado como um sonho, a lembrança está na foto que tiraste deste amigo. Levo essa foto comigo, ou a colei em um álbum, o que importa é o espaço que dedico a esse amigo.
As vezes, não ver-te é esquisito, ainda mais sabendo o quanto te vi. As vezes faz parte das coisas que nunca ficam pra traz, que vem junto com a gente independente do dia. É aquela coisa que a gente pensa em contar e fica satisfeito de ter pensado e parte correndo pra outra como se estivesse apressado.
Ligeiro pra não fazer nada, pra repousar na vida e pilota-la deitado ou olhando pro nada. Êta pressa que eu tenho pra parar de fazer.

Se eu fosse baiano e tivesse nascido assim, sem o tal do complexo de culpa, acho que me aposentava, comprava uma rede e um chinelo macio, ficava na beira do rio contando pro rio histórias do asfalto, da gente de salto, dos que olham do alto ou moram no alto de torres absurdas.
É caro amigo Daniel Boy, a vida se fez macia. Depois de uma coronhada tem coisa que não importa.
A gente sabe que a porta protege bem pouquinho. E a tela que tem na janela é pra mosca não sair.
O tempo é uma bobagem que um dia eu inventei. Te peço um milhão de desculpas se algum dia te enganei, pois acreditava que o tempo estava ai quando nasci.
Hoje trabalho pouco, mas ando muito ocupado, deve ser porque não trabalhar, também dá muito trabalho. Vira e mexe estou na serra, na planície ou no planalto. E é tudo igual. Uns são mais iguais que outros, mas dá tudo no mesmo.

Eram duas vezes......

Reflexões do escritório de fazer tema de casa
O mundo já acabou um monte de vezes e a gente deu risada.
Atirei um pau no gato de pesado foi ao fundo...
Não foi por pouco que estamos os dois neste mundo!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Revisão acadêmica
discurso de aposentadoria - 12 de setembro de 2002


foto: Daniel de Andrade - 1983

Olhando pros anos à frente
Vejo o futuro em lampejos
Que sejam todos felizes
Realizando seus desejos


Aqui vim sem convite
Pra dizer-lhes o que penso
Lamento se com palavras
Deixo algum presente tenso


Nestes anos acadêmicos
Aprendi a me calar
Percebi que esta casa
Não foi feita pra sonhar


Conheci a ditadura
E a falta de vergonha
Contrariei esses canhões
Fumando muita maconha


Pra muitos era uma fuga
O caminho da alienação
Mas na verdade era o jeito
De não perder a razão


Fiz panfletos subversivos
Dentro desta reitoria
Fiz teatro infantil
E muita patifaria


Eram os anos de ferro
Jovens na revolução
Que perderam a vida
Pra defender a Nação


Os anos foram passando
E a Nação acordou
O coração da moçada
Verde e amarelo brilhou


Reconquistamos o hino
E a bandeira com destreza
E ganhamos de herança
A ignorância e a pobreza


Numa escola viciada
Por anos de corrupção
Com um discurso vazio
Que não chega ao coração


Surgiram muitos partidos
Movimentos vingadores
E com camisa de força
Nos tornamos doutores


Cientistas preservadores
De uma elite cultural
Servidores em greve
Por um salário banal


Algumas mentes brilhantes
Brigam pra resolver
Um jeito que seja digno
Da gente, sobreviver


Outros, acomodados
Rezam pra não mudar
Cinderelas acadêmicas
Que não querem trabalhar


A história está escrita
Na decrepitude estrutural
Dos prédios de arquitetura
De um período colossal


Nesta casa envelhecida
Neste mesmo local
Deixamos para o futuro
Um patrimônio oficial


Cultura de um dia-a-dia
Desenvolvimento da ciência
E pra aqueles que ficam
Dose dupla de paciência


Tenho ouvido muitas queixas
Muitas palavras que mordem
Discursos estruturados
Na mais profunda desordem


O tempo passa e a escola
Vai cumprindo seu legado
Ensinando essa moçada
A ser um desempregado


Não culpem apenas a escola
Nem o seu professorado
O pacto de mediocridade
Por todos foi assinado


Tivemos até ministro
Ostentando doutorado
Levantou-se muita poeira
E ficou tudo arrasado


Ainda olho pra frente
Não me sinto derrotado
Cutuco os paradigmas
De um ensino ultrapassado


Sigo o caminho lutando
Com um discurso humanista
Sofro muito com isso
Meu coração é anarquista.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Não é coisa de pai bobão
...noite de domingo frio com Beatriz – 22 de maio de 2005


foto: Pablo Fabián

Nesta casa mora uma deusa
De encantos além da conta
Deixa-me boquiaberto
Com cada coisa que apronta

Luminosa e carinhosa
Veio dar o seu recado
Convicta e resoluta
É o presente ao meu lado

Ao nascer tinha um sorriso
Pros médicos, contratura
Mas com o olhar nos provava
Ser de amor e doçura

Dependente e autoritária
Corro pra todo o lado
E com sorrisos e beijos
Faz de mim um escravo

Aos céus me elevo e dou graças
Pelos filhos que tive até então
Pois tatuaram suas almas
No fundo do meu coração.

domingo, 7 de outubro de 2007

A, E, I, O, Uto...
exercício de rima – 12 de novembro de 2002


foto: Pablo Fabián - 2003

A respeito do contrato
Faço, reato e trato
Aventura de um retrato
Que concebo neste ato

Observo este dueto
Na estrutura me remeto
Acho o espaço neste gueto
Vou comendo o que cometo

Acordo cedo, fico afoito
No relógio já são oito
Café com leite e biscoito
E a lembrança de um bom coito

Loteria, sena e loto
Faço prece, faço voto
Ganho pouco, muito arroto
No momento sou devoto

A respeito do reduto
Reluto e uso luto
Suicídio em viaduto
De um vacilo resoluto

sábado, 6 de outubro de 2007

Santos de um cotidiano não preservado
referências fatais – 10 de maio de 2002

foto: Pablo Fabián - 1980

Na relutância branda de tu’alma espessa;
Nos mais profundos recônditos de tua formosura;
No repetir impertinente de tua doçura,
Vejo os reflexos opacos da dor que plantas;
Nas noites claras de tua loucura.

Serpente sinuosa de águas cristalinas;
Âmago consistente que sustenta o riso;
Retrato prolixo de uma amargura.

Sentada à beira da exuberante flora;
És fauna solitária no solidário clima;
Teus olhos fechados me privam;
Das mais ardentes tempestades.

Vem, brinda ao Sol tua existência;
Lava tu’alma na chuva fria;
Sorri;
E brinda o clímax.

Olha pra trás condescendente;
Vê as flores que pisaste;
Pede ao Pai que te ilumine;
E olha pra frente sem medo.

Cântico escondido que tens na alma;
Sonhos que negas acordada;
Despertar confuso que espedaça;
As memórias do que serás um dia.

Olha-te ao reflexo;
Aprecia a obra divina;
Vê que ao teu lado;
Estão a mulher e a menina.

Santa estrangeira sem cotidiano;
Mega estrutura de consciência escura;
Solta a menina;
Cospe a amargura.

Dança sozinha no claustro;
Vê que tens companhia;
Retoma a odisséia;
Do viver todo o dia.

Nada é excludente;
Tudo é harmonia;
O que tens na mente;
É sabedoria.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Clös dominia echo en astho
...astho encilio – by Estrulio Trolho – II X MMIII


foto:Julio Cutz – 1978 /arte:Pablo Fabián - 2007

Cunto livio antho en cuanto
Lurdo kluwskö restroena
Anto en cuanto clivio
Reaturdo restrovena

Inclábio palpiturno
Restrino en cuanto clivio
Mazlanea simultea
Irstricto lazzo cívio

Percabulas prepotante
Restracenas politurbio
Icludas retastuveas
Kläs putrás missurbio

Hipofanas nefecínas
Niestrasilfas dramuralhas
Incrosto clasto politurbo
Astracenas fractatulhas

Visto mictante
Limbio rustructo
Trono campante
Spatrada intructo


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Infame ironia

homo-sapiens emocionalis – verão de 1984

foto: Pablo Fabián - 1975

Do soluço ao custo infame da ironia.
Que mania essa que contemplas?
Imerso em ti mesmo como se fosses algo.
Disperso em si, como vento ao vento.
Atento assim como distraído.
Solto, falso, livre, prisioneiro da liberdade.


O tempo que vejo
...agrupado em um tempo qualquer, vendo á vida num álbum de retratos... década de 80

foto: Pablo Fabián - 1978

Olho pro tempo e
Vejo no tempo,
O tempo em que olho.
Perco no tempo,
O pouco que vejo e vejo que perco,

O tempo em que olho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Demonio de Dios
instigando el alma – 1985

foto: Julio Cutz - 1978

Demonio, demonio de Dios
Que vives en zonas oscuras
No me quites la luz y ni me des amarguras
Reflejos en negros espejos
Tu alma tan carda
Permite que de ti yo me aleje
Y tenga dentro mi la luz
Mismo que atado en tinieblas.


Um pouco de manhã
...ilusões... década de 70

foto: Pablo Fabián - 1980

À noite planejamos a vida e

Pela manhã mais nada nos resta.
Um pouco de sono e a lembrança de uma seresta,
Que prometia uma vida melhor.

Alma do meu cantar
canto do meu voar – 1980?

foto: Pablo Fabián - 2006

Não posso conter
Às aves que voam
Em busca de estrelas
No céu de minha boca

Ardem-me à garganta

Evocando um canto
Que só as aves
Conseguem cantar

Minha garganta se abre
Para que o seu céu
Possa existir

Não posso conter
As aves que voam
Em busca das estrelas
Do céu de minha boca

Não posso conter
Elas se alimentam de mim
Da carne do céu
Do céu de minha boca

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Disbundísmo
ata de inauguração – 23 de abril de 2004

foto: Daniel de Andrade - 1992

Lavro assim esta ata
Faz-se assim constituído
Num “insight”, num movimento
O “Disbundísmo Difundido”

Tais fundamentos se perdem
No período reflexivo
Freqüentando pensamentos
Já nasci comprometido

Eram os anos cinqüenta
De inquietações e contrastes
Da tecnologia inquietante
Das lembranças do desastre

Comemoram-se lembranças
O fim do desordeiro
Um povo pulverizado
E o lobo como cordeiro

A teoria dos conjuntos
Matemática moderna
O pensamento filosófico
Naufraga na baderna

Pós-guerreiros degenerados
Em crise existencial
Buscam no cheiro das flores
O antídoto do mal

Tem-se assim da rebeldia
O indicativo da luz
Uns encontram o caminho

Outros vestiram o capuz

Perceber
conto da madrugada - julho de 1983

arte: Pedro Pires
foto original: Enrique Fabián

O dia estava nublado.
Isso, não era suficiente para que Nibaldo deixa-se de caçar borboletas.
Verônica olhava através da vidraça embaçada,
As luzes pareciam borboletas,

E Nibaldo nem se dava conta.

Marcas
macacos me mordam – 1982


foto: Daniel Vidor

Minha vida é marcada
Por uma busca cega e alucinada
Regada por obsessões e exageros
Possibilitando incursões
Pelos subterrâneos da mente
Onde percorro as mais intensas

E envolventes emoções

Juntos?
conto da noite - julho de 1983


foto: Eduardo Tavares

Jabuco balbuciava em cima de seu sorvete
Odete delirava, debruçada, sobre o livro
E Raimundo pairava sob o efeito de seu baseado.
A campainha soou! Gritou Odete.
Gritou Odete? Perguntou Raimundo.
Jabuco correu à porta e atendeu o carteiro que trazia uma mala.
Jabuco fechou a porta, guardou a mala e mergulhou, neurótico, em seu sorvete.


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Nem muito, nem tão pouco
conto da tarde - julho de 1983


foto: Pablo Fabián

Leôncio mostrava a seu filho
Que a vida que tinham era bela.
Seu filho, Hipólito, porém retrucava
Exemplificava a sua pouca sorte
Leôncio mostrava a seu filho
Que a vida que tinham era bela.
Exemplificando que a sua pouca sorte,
Não era, assim, tão pouca.
Hipólito se indignava
E ao velho pai retrucava.
Leôncio mostrava-se tranqüilo e seguro.
Hipólito achava que ele mentia...

Leôncio tinha certeza.

Yo profeta
“insights”...la academia esta llena de idiotas... – 1989


foto: Pablo Fabián - 1995

Pongo mis ideas en la boca
De los santos, de los dioses,
Brujos
, sábios, pensadores,
Oráculos, príncipes y profetas.
Me creen,
No me discuten ni me culpan.

¿Al final, quien soy?


Virgo
espelho cigano – 1º de outubro de 2002


foto: Pablo Fabián - 1981

O sorriso de um virginiano é um elogio a inteligência de quem o faz rir.
Exigentes, e ora sectários, detestam a mediocridade e a falta de classe.
Timidez não é o sinônimo da exagerada, autocrítica e necessidade de ser excelente, perfeito.
Se me perdoas o uso chulo das palavras, "uma merda" de atitude, que provoca mergulhos internos de um martírio carrasco.
Céticos, ora frios e racionais, precisam atender a um padrão de certezas que, muitas vezes, inexiste e impede o ascenso da irreverência criativa.
Hippies de vitrine, de planejada displicência são capazes de passar horas despenteando, harmonicamente o cabelo.
Seres impares e invejados pela segurança que transmitem. Por mais que em mundos internos, o caos seja soberano.
Criticados e copiados, estruturam, sistematicamente, tudo por onde passam. Umas malas. Porém completas, organizadas e previdentes. Malas com varias alças, rodinhas bem lubrificadas e com cores que combinam com a meias ou a roupa íntima.
Deliciosos e desconfortáveis são elementos indispensáveis na construção da surpresa, do encanto e do cuidado com detalhes que fazem a diferença.