segunda-feira, 22 de junho de 2009

A arte ritualesca da gastronomia como suporte na fisiologia da digestão
reflexão digestiva com Lúcio Pacheco e Laerte Martins - 20 de junho de 2009

foto: Pablo Alejandro Fabián - 2003
A Gastronomia compreende, mais que uma busca hedonista de estimulo aos prazeres do paladar, um ritual carregado de sabedoria. A ciência do bem comer, se apóia em profundos conhecimentos fisiológicos e psicológicos que, levam a uma melhor digestão e uma maior absorção dos nutrientes envolvidos. Essa é a função do prazer de comer, ou seja .. fazer com que as pessoas comam, se alimentem e se nutram para melhor atender as funções vitais do organismo.
A função da gastronomia consiste em estimular os diversos centros nervosos e provocar as atividades eletroquímicas necessárias para, um relacionamento perfeito, entre nossas necessidades de reabastecimento e o "combustível" que estamos utilizando. A relação pode começar pelo sentido olfativo ou pelo sentido visual, dependendo da situação, e a partir da complexa rede de informações de nosso organismo, algo faz com que iniciemos o processo de salivação. Nesse momento já foi dado o "start" do processo digestivo, antes mesmo de levarmos o alimento a boca.
Justificam-se, na gastronomia, os odores e suas combinações assim como o efeito visual que nos causa um determinado arranjo dos alimentos.
Se o ritual respeitar "os tempos" do organismo, ao colocarmos a comida na boca, já estaremos aptos a digerir, adequadamente, esse alimento. O sistema digestivo é informado previamente e a produção dos sucos gástricos e de outros elementos e funções pertinentes são ativados.
A maior parte das opções da linha "fast-food", além de - na maior parte das vezes - não estar adequada do ponto de vista nutricional, pecam pela impossibilidade da ritualística indispensável para o bom funcionamento digestivo. São extremamente industrializados, carregados de ácidos graxos, açucares complexos e uma excessiva carga de amido, estão contextualizados num cenário de condições adversas às possibilidades de reação do organismo à preparação da receptividade para o alimento. Distúrbios de peso, digestão lenta, pouca elasticidade da pele e cabelos sem vida são alguns dos muitos sintomas da aventura de mal se alimentar.

Reforço o fato de que podemos comer muito mal consumindo, apenas, produtos de primeira, orgânicos e saudáveis. Basta que desrespeitemos nosso organismo, não privilegiando o ritual da refeição.

Particularmente, gosto muito dos "ditos populares", esses que as avós usam para resolver situações. Por exemplo: Em caso de indisposição digestiva, o melhor é não comer até que dê fome. E nesse momento cabe prestar muita atenção tentando descobrir que tipo de fome é. Fome do que? Com o que, meu estômago gostaria de matar essa fome? A resposta a essas perguntas é uma informação vem do próprio organismo e indica o remédio.

Os primeiros rituais gastronômicos, por mais que os franceses proclamem Antoine Careme (1748) como o criador da cozinha francesa e da alta gastronomia e os romanos (500 anos antes de Cristo) produzissem suas orgias gastronômicas, datam do paleolítico e vem desde então aperfeiçoando-se, tanto na culinária - propriamente dita - como na ritualística.

Outro ponto fundamental para a boa alimentação, além da mastigação e conseqüente salivação (que é um tema que requer uma abordagem a parte), está na construção do cenário adequado. O ambiente da refeição faz parte do ritual gastronômico. Analisando do ponto de vista da psicodinâmica das cores, os tons de ocre, alaranjados e amarelos claros, estimulam a produção dos sucos gástricos. Condições ergonometricamente adequadas, luzes quentes e sonoridade confortável - com música (cabe ressaltar que arranjos melódicos são mais adequados que os rítmicos) - contribuem positivamente na construção desse ambiente propício.

A Gastronomia é uma arte complexa que utiliza, entre muitos elementos, um bom prato de comida.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

MOTIVOS

... o vazio ... - 24 de abril de 2005
Queria poder te dizer palavras bonitas
Mas, me faltam palavras...
Queria poder te fazer um carinho
Mas, me faltam motivos...
Queria poder proclamar esta amizade
Mas, me falta a amiga...
Queria poder dizer que foi bom
Mas, me faltam boas lembranças...
Queria poder fazer algum plano contigo
Mas, me falta futuro...
Queria poder rir contigo
Mas, não acho mais graça...
Queria poder conversar
Mas, te faltam palavras...
Queria esquecer que tu existes
Mas, me sobra memória...
Queria pensar que poderia ter sido bom
Mas, não acredito mais nisso...
Queria poder voltar no tempo
Mas, o futuro me espera...




domingo, 25 de janeiro de 2009

Discurso de paraninfo da formatura dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Publicas - 2008/2 da faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.

24 de janeiro de 2009

Sras. e Srs presentes, pais, parentes, amigos e simpatizantes
Queridos alunos, Sr. Diretor, Professores, Funcionários
Primeiramente gostaria de dividir com vocês que fiquei curioso (quando convidado) com o sentido original da palavra paraninfo.
E para tal ...
Elevei meu pensamento e invoquei São Google, dei "enter" e ...
Do latím: paraninphu, que veio do grego "paraninphus", formado de - para (junto de), mais - nymphe (noiva).
Desde a Grécia, passando por Roma, era quem protegia o noivo ou a noiva.
O Paraninfo (ou paraninfa) tinha muitas incumbências, entre elas:
Examinar e endossar a pureza da noiva;
Preparar o casamento e o quarto dos noivos (convites, decoração da igreja, festa, bolo, salgadinhos, cortinas, cama, lençol, travesseiros, urinol, etc...) - atributos, popularmente destinados aos Relações Públicas.
Era também incumbência ...
Dormir no quarto ao lado na noite nupcial, para assegurar pronto atendimento no caso de ameaça à integridade física da noiva.
Depois da lua-de-mel, o trabalho continuava:
Contornar eventuais desavenças entre marido e mulher no convívio conjugal.
Ou seja ... ser paraninfo era uma encrenca!
Hoje - Uma Honra - pelo menos pra mim.
Dentre algumas das atuais incumbências, está o discurso.
Particularmente acho discursos muito longos, até chatos, mesmo os mais eloqüentes.
Neste momento, atendendo àqueles que pensam como eu, serei o mais direto possível.
Para cumprir a promessa de ser pontual, vou dividir esta fala em três pontos.
E antes de começar, uma alerta que é baseado num ditado Tolteca, que em síntese diz:
"Não acreditem em nada, mas prestem muita atenção".
o 1º ponto é de ordem pessoal (e peço que me desculpem), se refere à importância que esta instituição tem na minha vida:
Em 1955, inicia-se a minha relação com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nessa época não federalizada.
Nesse ano, meu pai Roberto Fabián, arquiteto e urbanista, foi convidado a desenvolver um pós-graduação em urbanismo para a então Faculdade de Arquitetura da URGS. Nessa época moravamos em Buenos Aires e eu tinha dois anos.
Em 1956 viemos de muda para Porto Alegre com toda a família.
Em 1964, minha primogênita irmã Marta, ingressa - via vestibular manuscrito - no curso de Biologia da URGS, onde atualmente é professora associada.
Meu irmão Enrique, em 1968, é aprovado no vestibular de Medicina, também desta casa.
Não cabia nos paradigmas da minha família, a possibilidade de ingressar em algum curso superior que não fosse na URGS.
E dessa forma, na sequência, em 1974 fui aprovado no vestibular para Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - nossa querida Fabico.
Era tão única a opção pela UFRGS que, quando voltei pra casa com a notícia, correndo para contar ao meu pai, (ele estava sentado, lendo um livro e eu entrei orgulhoso, radiante, vitorioso ... anunciando em voz, anunciando em voz alta meu feito) olhou-me por sobre os óculos e num tom de pouca surpresa perguntou: Fizeste vestibular pra rodar?
Em outras palavras me fez perceber que não havia feito nada que não minha obrigação.
Então, um pouco menos inflado, iniciei minha aventura acadêmica tentando entender que curso era esse que eu havia escolhido.
Nessa época eu já me bancava financeiramente trabalhando como fotografo e não foi difícil me identificar com Jornalismo e Publicidade.
Depois de passar pela RBS e Martins&Andrade, fui trabalhar, como fotografo, no Gabinete do então Reitor Homero Só Jobim - pelas mãos da professora, orientadora e amiga Martha Alves de Azevedo e no início de 1977 tornei-me funcionário federal. No fim desse mesmo ano me formei. Não com tanta pompa e cerimônia como vocês, pois distraidamente esquecí de vir a formatura.
Se cabe a um paraninfo dar conselhos, ai vai um:
Nunca digam nunca. Explico ...
Fiz meu curso no tempo estipulado - 4 anos.
E jurei pra mim mesmo que nunca mais voltaria lá.
No entanto ... nunca mais saí.
Em 1978 torne-me professor de foto do Colégio de Aplicação e nos anos seguintes, iniciei minha trajetória didática dentro da Fabico.
Talvez saia neste ano, aposentado.
Obrigado UFRGS, obrigado a todos que me ajudaram e me atrapalharam.
O 2º ponto se refere à nossa missão como comunicadores:
Inicialmente, cabe frisar que comunicação não é fim, e sim meio.
A comunicação é o principal meio de relacionamento e nós temos expertise em relacionamento.
O mundo muda rápido e por caminhos imprevisíveis.
As previsões do filosofo e educador canadense Herbert Marshall McLuhan, que proclamavam a "Aldeia Global" já no inicio dos anos 60 - se cumpriram em parte - o deixaria perplexo, saber que podemos ter uma indústria administrada em São Paulo, com parque fabríl na China, estrutura de logística sediada em Londres, os produtos consumidos na Austrália e na África e o "Din-Din" depositado numa âgencia do Banrisul em Anta Gorda.
De lá pra cá aprendemos a "deletar" amores, "adicionar" amigos, fazer "upgrade" nos conhecimentos, dar e receber "feedbacks", "resetar" processos que engasgam, dar um "Format C" em processos que não deram certo ou dar um "Control-Alt-Del" quando as coisas andam meio travadas ....
Essas mudanças nunca são totalmente digeridas e cabe - a nos "Comunicadores" catalizar esses processos.
Cabe-nos mais...
Cabe-nos olhar para o futuro - e identificar tendências
Cabe-nos exceder nossos limites de entendimento.
Cabe-nos, a todo o momento, quebrar paradigmas
Cabe-nos aprender a julgar menos e entender mais.
Cabe-nos, entender - sempre e nunca esquecer, - que somos pessoas trabalhando para aproximar pessoas.
Cabe-nos ter uma vida digna e prospera, pois lutamos pela dignidade e prosperidade, em todos os níveis que se estende a vida.
Assim como o arquiteto é pautado pelo ambiente e sua luz, nos comunicadores, somos pautados pelas dificuldades humanas de relacionamento. Criamos ambientes e circunstâncias onde a luz circula e a energia entre as pessoas flui.
Infelizmente as instituições de ensino superior e técnico se transformaram em fábricas de desempregados. Não orientamos os alunos a serem empreendedores. Não ensinamos, num cacoete cristão, como ganhar dinheiro. Os professores não falam em orçamentos e valores reais, ... talvez por que não saibam fazê-lo.
Cabe a vocês não ter medo nem culpa de ganhar dinheiro.
E isso, me remete para o 3º ponto, que se refere a nossa missão como seres humanos:
Vou destacar 3 dos muitos pontos que incidem ...
A Qualidade de Vida - que começa pela possibilidade de deitar a cabeça no travesseiro e dormir.
É fala desta casa "O Comportamento Ético" e as demais virtudes humanas.
O inferno é individual, é o contraste entre o que sabemos e o que praticamos.
Valendo-me de referencias bibliográficas: "Bem aventurados os pobres de espírito, deles será o reino do céu" - isso se refere aos ignorantes e incautos, desprovidos de culpa pela falta de conhecimento e referencia.
Vocês - meus queridos - não fazem parte dessa categoria. Vocês sabem - e não existe o "dissaber" assim como, também, não existe essa palavra.
2º aspecto - O amor próprio - Não esqueçam que vocês são seus clientes nº 1 - E se vocês não cuidarem de vocês mesmos, com carinho, atenção e determinação, não terão nenhuma utilidade para quem quer que seja.
Isso não é filosofia ou a pregação de algum iluminado. Isso é ciência. Engenharia de Segurança - e poderão constatar em qualquer vôo doméstico ou internacional, enquanto saboreiam uma deliciosa barra de cereais: "Em caso de despressurização - máscaras iguais a esta cairão a sua frete. Puxem para liberar o ar e blá-blá-blá" e assim por diante e ai ... "caso haja uma criança ou pessoa idosa, coloque primeiramente a máscara e você e depois ajude" ... ou coisa similar.
Preparam-se. Capacitem-se para serem úteis. Amem-se.
Dessa forma o 3º e último aspecto se refere ao poder do amor.
Nova onda nos fala de Net-work. Trata-se de uma rede poderosa de relacionamentos com a finalidade 1ª de oportunizar negócios. Business. " Your job!"
Uma vez uma colega de trabalho, me criticou dizendo: Pablo tu misturas as coisas - trabalho é trabalho - amizade é amizade e amor é amor.
Num impulso impensado, como se meu coração respondesse uníssono com a minha mente - respondi: Não sou eu que misturo, tu és quem separa - é junto - é gente - somos integrais.
E creio que foi nesse momento que eu tive o insight da Net Love - Maior que a Net Work - Net Love. Rede de relacionamentos sinceros, verdadeiros onde a própria Net Work tem seus transitos facilitados.
Se não me engano, os únicos profissionais que falam em algo parecido são os advogados. Eles chamam de affectus societatis e se refere aos motivos (não tangíveis) que incidem nas sociedades e parcerias.
Tem um dito popular, que ao meu entender, peca na interpretação da essência humana:
"Onde se ganha o pão, não se come a carne"
Como acadêmico, sou obrigado a discordar e me agarrar às estatísticas:
75% dos relacionamentos iniciam em ambiente de trabalho ou escolar.
Aliás, não poderia ser diferente, passamos a maior parte do tempo trabalhando ou estudando.
Minha 1ª esposa é dentista e a conheci graças à ditadura militar que não permitia que a Fabico tivesse bar ou qualquer outro lugar de reunião, o que nos obrigava a frequentar o bar da Odonto. Bingo - casei.
A 2ª é Relações Públicas e foi minha aluna na Fabico.
Minha atual companheira é Engenheira Química formada pela PUC - resolvi experimentar outra instituição - esse pessoal da UFRGS se separa muito.
Somos energia e como tal nos relacionamos.
A energia de um sorriso, atrai sorrisos, a energia da indiferença atrai indiferença. Colhemos o que plantamos.
Acreditem que vocês merecem - e construa um futuro próspero e saudável.
O xamã Don Juan, segundo Carlos Castañeda (autor que teve destaque nos anos 70 e 80),
define o medo como o 1º inimigo do homem. Apenas o primeiro de muitos - e muito mais perigosos. Portanto meus amados - já - colegas comunicadores, se sucumbirem ao medo estarão fadados a uma existência medíocre. Não sejam médios.
Já ouviram falar o Alexandre, o Médio?
Tenho certeza que não, esse não entrou para a história.
Não tenham medo
Não tenham medo do mar - tenham cuidado
Não tenham medo de dirigir - tenham prudência
Não tenham medo de ganhar dinheiro - tenham projetos de vida
Não tenham medo de errar - aprendam
Não tenham medo da solidão - amem
Não tenham medo das pessoas - se relacionem
Não tenham medo dos opostos - se associem
Não tenham medo de morrer - vivam com toda a intensidade
Não se acomodem com a dor
Não se acostumem com o insucesso
Briguem, Lutem e Comemorem
Obrigado por me convidarem para ser o Dindo de vocês!
Adorei - Contem sempre comigo ... Boa sorte ... Amo vocês.