Pai Saturno
ad referendum – 28 de junho de 1982
Seu pai, seu Mestre Saturno
Sua vez, sua hora, seu turno
Seu terno cinza, gravata listrada
Seu olhar seguro, cabeleira agitada
Sua cabeça se abria
E de dentro,
Em revoada, saiam milhões de pássaros
Em admirável toada.
Eu os via brancos como símbolos da paz
E ao partirem, a paz levavam
O que nos resta?
Ah! Pai da casa dez
Projeta na casa onze teu desejo
Para que, com o que almejo
Possa obter um futuro
Futuro forte, seguro
Para que eu possa no escuro
Dessa casa que se segue
Lembrar das lembranças que enterrei no medo.
Olhava pro céu como que num canto lógico
Mirava-se nas estrelas e outros astros
O enfoque imaturo se voltou astrológico
A carência nativa, jogou-me no abismo
Abismo sem fim, sem fundo, sem mundo
Abismo interior das dores da casa doze
Monstro sentado a sua porta, abalando sua pose
Monstro da “um” sentado na “doze”.
Dias de “quatro”, dias de “dez”
Dias de “seis”, de “sete” e de “oito”
Olhava pra lua, como que a um biscoito
E nela a mãe, a amante, o coito.
Olhava o futuro e só via o passado
Passado pisado sem muita atenção
Deixava um rastro noturno
Onde ecoava a voz de seu pai
O Mestre Saturno