sexta-feira, 14 de outubro de 2011

.. na terra das mil e uma noites ..
da série: As aventuras inusitadas do Mulá Diguidín

Dia 6 de outubro aterrizamos em Istambul .. uma viagem longa (13h São Paulo/Istambul), mas com a vantagem de ser direta e contar com razoáveis serviços da Turkish Airlines.

Pegamos um taxi e rumamos para Sultanahmet .. (+/-) 30min. O taxi andava rápido - uma mercedes preta impecável, o motorista - de terno escuro parecia personagem de uma máfia eslava - escutava rádio, algo que parecia um inflamado discurso em turco num volume alto.

Muitos carros, muitas buzinas, muita gente ..

O contraste das Mesquitas, das ruínas das muralhas de um lado e do outro o Bosphoro abarrotado de barcos de pesca - dividindo a Europa da Asia ..

Bandeiras turcas por todo o lado e rezas muçulmanas ao fundo .. estávamos em Constantinopla.



Desde pequeno eu tinha uma pergunta em minha mente: Quantos Volts tinha a Tomada de Constantinopla?

O hotel era num prédio histórico .. um antiga casa de detenção do Séc. XIX, todo reformado .. muito confortável, clássico e elegantemente decorado.

Ao entrarmos na habitação, um belo prato, abarrotado de figos frescos nos dava as boas-vindas.

Tínhamos em mente, além de curtir aquele clima das mil e uma noites, conhecer a cidade, sua gastronomia (o que incluía - necessariamente - uma visita detalhada ao Kapaliçarsi Grand Bazaar) e uma banda até Cappadocia.

Iniciamos com umas bandas locais .. pernada .. muitos turistas .. e assim fugimos dos grandes monumentos (após uma rápida visita) e mergulhamos em ruelas, becos, galerias, porões ..

Uma máquina fotográfica no pescoço imprime na testa: Turista. E isso é um grande limitador, além de nos colocar como alvo para toda a sorte de meliantes.

Imediatamente comprei um "omani muslim cap". Vi um lindo, na loja de um armênio que vendia tapetes .. ele tinha 3 a venda .. feito e bordado a mão, discreto .. era meu .. tinha sido feito pensando em mim. O armênio me contou - não sei se era apenas argumento de valorização do produto, mas acreditei - que demorava mais de um mês para produzir cada um deles.

Com a cabeça protegida, minha barba desbotada pela idade e uma ancestralidade que passa por terras mouras, comecei a perceber que podia transitar mais seguro. Confirmei ao ser abordado por vários árabes, egípcios, paquistaneses e turcos que se aproximavam falando rápido pedindo informações. Bingo .. mimetizado. Agora era só evitar confusões e curtir o que o passaporte que eu carregava na cabeça me proporcionava.

Em pouco tempo estava me relacionando, misturando inglês, francês, espanhol, portugues e convincentes mímicas, nas prática negociais típicas daquela região.

Passei a pechinchar com firmeza e obter significativas reduções nos preços das coisas que comprava.

Tenho certeza que quando eu saia eles ficavam a nítida sensação de que haviam me logrado. E eu também tinha a mesma sensação.

Abastecido de temperos, doces, frutas e algumas quinquilharias hipnotizantes, voltávamos para Sultanahmet, deixavamos as sacolas e continuávamos nossa aventura. Assim foram 3 dias intensos - ao som das rezas e dos constantes fundos musicais - que mais pareciam um filme que ia desde Alli-bah-bah, até uma aventura de James Bond.

Arrumamos as malas e nos dirigimos ao aeroporto de Ataturk, onde embarcamos para Kayseri (antiga Cesaréia) e de la - de carro para Cappadocia, distante 75km.

Nunca havia entrado num aeroporto Turco (apenas saído), já na entrada, na porta, uma esteira de raio-x para colocar as malas e demais pertences, passamos pelo detetor de metais onde tivemos que tirar os cintos, botas, relógios, etc … fizemos check in , passamos por outra bateria de segurança, com direito a tirar as botas, cintos, relógios, etc, etc, etc … e fomos para a sala de espera .. (nome que se justifica, pois o vôo atrasou e esperamos muito).

Durante a espera tomamos muito chá (sempre disponível em todo o lugar), lá pelas tantas, enquanto mergulhávamos em nossos iPads respondendo e-mails ou jogando paciência, entram vários membros da Türk Polisi, indicando com palavras de ordem (em Turco) e gestos que deveríamos sair de onde estávamos e nos colocarmos junto a parede do outro lado da sala. Ficamos parados olhando enquanto eles - como perdigueiros - farejavam alguma coisa (depois soubemos que havia ameaça de bomba), os demais passageiros - a grande maioria turcos, tomavam chá e conversavam calmamente como se aquilo fizesse parte do cotidiano deles. Provavelmente fazia.

O avião decolou e duas horas e meia depois estávamos em Cappadocia num hotel Brega-Chic que ostentava quatro ou cinco estilos simultaneamente. Algo que de certa forma, embrulhava o estômago. Era um competente e excelente mau-gosto.

As cinco da manhã, depois de algumas poucas horas de sono, nos dirigimos para o embarque dos Balões - nos ofereceram um café de gosto muito ruim e alguns pedaços de pão enquanto esperávamos a montagem das naves flutuantes. Havia chovido todo o dia anterior e também durante a noite .. nesse momento - abrigados dentro de uma caverna - contemplávamos uma insistente chuva fina.

Fomos avisados pelos guias e condutores dos balões que, se o tempo não melhorasse a atividade seria abortada por falta de condições seguras.

Esperamos mais meia hora enquanto escutávamos conversas em japonês, inglês, espanhol, alemão e outras que não decifrei. De repente o tempo clareia, a decolagem está confirmada.

Éramos apenas Muhamed e eu (mais dois tripulantes) representando o sexo masculino, quatro americanas histéricas e chatas - sendo que uma delas com idade indecifrável devido a deformantes plásticas e excessivas aplicações de Botox, uma japonesa, uma francesa e duas brasileiras.

O vôo durou uma hora e quinze minutos, passando por vales, chaminés de fadas, encostas pedregulhosas e áreas de cultivo. Mesmo tranquilo demais para meu gosto (dentro das normas de seguraça), permitia uma linda e surpreendente vista de parte dos (segundo os guias) cinco milhões de metros quadrados desse parque.



Fomos resgatados a alguns quilômetros do ponto de saída e voltamos para o hotel .. eram 9h30min da manhã e um café completo e sortido nos aguardava.

A chuva recomeçou com força, visitamos algumas cavernas, cidades subterrâneas ..

Os registros históricos dessa região datam da época dos Hititas, na Idade do Bronze. Eles deveriam ser muito pequenos, pois depois de algumas incursões pelas cavernas eu estava com meu pescoço torto e com dor nas costas.

No meio da tarde voltamos a Kayseri e de lá para Istambul.

Istambul é extremamente instigante, tem 18 milhões de habitantes sendo que 97% muçulmanos. Grande ponto de comercio .. a Rota da Seda de Marco Polo.



Nos dias que nos restaram, já mais aculturados e menos surpresos com o que encontrávamos, nos aventuramos mais no lado oriental da cidade (na outra margem do Bosphoro) onde percebemos um renascimento cultural contemporâneo, alinhado com conceitos mais metropolitanos e com significativa expressão cultural, artística e gastronômica.

No último dia, enquanto caminhávamos na beira do rio percebemos que mais alguns dias seriam necessários para entender melhor a Istambul do Séc.XXI .. coisa que ficará para uma outra vez.