segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dos sonhos que sonhei
como é que não vais gostar de mim, se te abro assim a alma – 1985


foto: Pablo Fabián - 1979
Já perdi a conta dos sonhos que sonhei
Mas, ainda vivo seus enredos.
Justificativas não existem
Pode haver mistérios
Junto a este sonho rotundo
Organizo e mistifico os fatos.
Jurei, certa vez, a mim mesmo
Nunca moralizar às vivências
Jorraram vivências.
E São Francisco me acuda
Tentei não cataloga-las.
Juro que tentei
De todas as formas

Mas, foi em vão.

Pintô, tem que curtir!
das linhas de um desenho - uma noite de 1978

arte: Pablo Fabián - 1972

Naturalmente, sinto que vai fluindo
E mesmo que não transpareça algum sentido
É muito bom aproveitar o fluxo
E curtir o que pinta

Perda
putrefactas lembranças - verão 1985


foto: Pablo Fabián - 2005

Uma vez, perdi um bagre
Era um bagre pequeno, sem dúvida
E ficou, do lado de baixo do banco
Do banco do carro, duma velha Belina
Velha e acabada
Pois bem, o bagre fedeu
Fedeu tanto, que deu pra sentir no outro dia
Sobre o bagre inerte, uma multidão de moscas verdes
Banqueteavam-se e desovavam em volúpia
Interferi e arremessei o bagre aos ares
O bagre bichado
Colônias de vermes se apossaram das imediações do banco
Do banco do carro
Da velha Belina
Marrom metálico carcomido
Usei detergente, desinfetante
E dei tempo ao tempo
Os vermes morreram
E ali se integraram, fétidos aos odores químicos dos desinfetantes
Aromatizados artificialmente com uma mescla azeda e doce
Batizada de odor-maçã
Dos restos do peixe
Putrefacto e descaracterizado
Mais a mescla dos vermes aromatizados
Surgiu mais uma cultura possibilitando a gênese
De imperceptíveis demônios
Produtos da carne putrefeita
E dos mais nefastos vermes varejeiros
Já nauseabundo, deixo a porta, janelas e ventarolas abertas

Na esperança...