segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Perda
putrefactas lembranças - verão 1985


foto: Pablo Fabián - 2005

Uma vez, perdi um bagre
Era um bagre pequeno, sem dúvida
E ficou, do lado de baixo do banco
Do banco do carro, duma velha Belina
Velha e acabada
Pois bem, o bagre fedeu
Fedeu tanto, que deu pra sentir no outro dia
Sobre o bagre inerte, uma multidão de moscas verdes
Banqueteavam-se e desovavam em volúpia
Interferi e arremessei o bagre aos ares
O bagre bichado
Colônias de vermes se apossaram das imediações do banco
Do banco do carro
Da velha Belina
Marrom metálico carcomido
Usei detergente, desinfetante
E dei tempo ao tempo
Os vermes morreram
E ali se integraram, fétidos aos odores químicos dos desinfetantes
Aromatizados artificialmente com uma mescla azeda e doce
Batizada de odor-maçã
Dos restos do peixe
Putrefacto e descaracterizado
Mais a mescla dos vermes aromatizados
Surgiu mais uma cultura possibilitando a gênese
De imperceptíveis demônios
Produtos da carne putrefeita
E dos mais nefastos vermes varejeiros
Já nauseabundo, deixo a porta, janelas e ventarolas abertas

Na esperança...

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