segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Discurso de paraninfo da formatura dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas - 2009/2 da faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.

31 de janeiro de 2010

Antes de mais nada, meu profundo agradecimento e prazer de estar aqui, na frente de vocês, tendo mais esta oportunidade de dizer-lhes o que penso.

Um ano atrás estive aqui anunciando que me aposentaria .. pois bem - esse é o fato - estou indo.

Diferentemente de vocês precisei de 36 anos para me formar ... sair da Fabico onde ingressei em 1974 via vestibular.

Amadas alunas, amados alunos, respectivas mães, pais, irmãs e irmãos, parentes e amigos.

Caro amigo Ricardo Schneiders - Diretor da Fabico

Professores, funcionários e curiosos.

Mesmo que desejassem - estar neste momento, na beira da praia, na piscina ou no conforto de seus ares condicionados - estão presentes.

Muito agradecido ...

Por algum motivo, aqui estão.

- pelo amor à algum destes entunicados que inicia mais uma etapa de sua vida ...

- pelo cumprimento do dever ...

- por uma obrigação familiar ...

- por uma obrigação social ...

- por laços afetivos ...

- pelo simples gosto pela pompa e solenidade ... ou ... por outros tantos motivos ...

Eu - estou aqui a convite e isso muito me honra.

Talvez, este convite, traduza um reconhecimento, uma gratidão ou a retribuição por alguma coisa ...

Eu prefiro acreditar que estamos ingressando na grande Net-Love e, dessa forma, na categoria dos amores imortais.

Hoje .. não há necessidade de bater na tecla do compromisso ético com o profissional, social, político e humano.

Já falamos muito disso.

Vou dedicar minhas atenções a um único tema que, entendo, ser da maior importância e relevância.

Trata da loucura

Em determinado momento, para fazermos parte do seleto e árido clube dos adultos, abandonamos a intuição.

Buscamos a supremacia da razão ...

Ouvíamos de nossos orientadores, nossos mestres compulsórios, nossos pais: "Isso é coisa de criança"

Não queríamos mais ter os limites das crianças, queríamos sim fazer parte daqueles papos enfadonhos, que mesmo sem entende-los achávamos que deveriam ser o máximo.

Sabotamos de vez nossa intuição e passamos a acreditar que os sentidos humanos são apenas cinco.

Alguns, mais rebeldes e sensíveis, para sobreviver tornaram-se artistas.

E mesmo assim ... muitos não sobreviveram ...

Sucumbiram à dúvida, foram rechaçados, banidos, expurgados, queimados em fogueiras, crucificados, esquartejados .. barrados no baile - marginalizados.

Outros tantos - muitos mesmo - se massificaram na tentativa de serem socialmente viáveis.

Perderam o contato direto com sua loucura substancial.

Abriram mão da identidade essencial.

Sem nos darmos conta ...

- Ajustamos nossos corpos aos ditames da moda que, ora nos faz gordos, ora nos faz baixos, ora altos ou muito magros.

- Ajustamos nosso paladar aos ditames dos nutricionistas que - ora condenam o ovo - ora o proclamam.

- Ajustamos nossos amores à moça ou rapaz de boa família, de posses, com futuro ...

- Ajustamos nossas amizades a círculos de interesse ...

Nos ajustamos .... queremos ser aceitos e amados.

Nascemos e vivemos num planeta minúsculo que chamamos de Terra.

Esse planeta apresenta, em sua superfície, mais água do que terra, mas mesmo assim o chamamos de Terra.

Este planeta - a Terra - tem suas regras e possibilidades – as que chamamos de leis da natureza.

São leis complexas determinadas pelo grau de densidade da matéria manifesta, somadas a total dependência do equilíbrio do sistema Solar, intimamente dependente do comportamento da Via Láctea que se mantém em consonância com as "Leis do Universo".

Chamamos a galáxia de Via Láctea porque somos mamíferos e temos o leite como uma fonte sublime de alimento.

Fazemos isso porque entendemos que somos a raça que domina a tecnologia, as artes, as guerras e pretensamente (há controvérsias) gerenciamos os recursos naturais.

Pela prática desse gerenciamento, nos damos o direito de alterar e, por vezes, acabar com fontes naturais, escravizar animais para nosso próprio sustento e deleite, reivindicar a posse da terra e sentir-nos mais importantes de que tudo.

Isso pode parecer loucura. E é.

O que acontece é que, essa forma de acreditar, constitui a razão humana - ou seja - a loucura oficial.

Essa loucura, baseada num esquizofrênico entendimento de supremacia, quando ameaçada - combate até a morte qualquer forma de pensar que a desestabilize.

Cartéis religiosos, econômicos e políticos se ergueram dessa forma e lutam para garantir a manutenção dessa lucrativa mediocridade.

Nos meus 57 anos de vida tive a oportunidade de ser chamado de louco - muita vezes.

E aprendi que é "loucura" - tentar provar o contrário.

Dessa forma tratei de ser um louco de respeito .. acho que não consegui.

Se é difícil para a humanidade aceitar diferenças básicas como etnias, crenças, valores, religiões, formas de buscar prazer ..

Por que - eu - conseguiria tamanha proeza?

Quanto menos consciência, mais individuais são as verdades e mais individualista é a humanidade.

Verdade ou mentira dependem - sempre, do poder do mentiroso.

E para preservar a "verdade" - mentimos, enganamos, escondemos fatos e manipulamos.

No intuito de nos preservarem e protegerem, nossos pais mentiram pra nós e os pais deles fizeram a mesma coisa e assim por diante.

Tenho certeza de que entendem porque chamo isso de esquizofrênico.

O dinheiro dos bancos é dos clientes.

Os bancos são ricos sempre.

Os clientes nem sempre.

Na maior parte das vezes não.

E se discordamos dessa dinâmica desastrosa, perderemos pseudo-regalias e poderemos ser encaminhados para um manicômio.

"O tema manicômio é um capitulo a parte e aconselho que leiam a "História da Loucura" de Michel Foucault."

A humanidade evolui em massa, quem puxa, porém, são aqueles que ousam, inovam, arriscam, se aventuram e muitos desses desaparecem ou entram para a história como desajustados.

Pactuamos com a avaliação de critérios globais, muitos destes, absurdos e promovem a dor e o sofrimento.

Em compensação o sofrimento e a dor são premiados.

Tememos o amor e a felicidade.

Até porque - ao nos ajustar com os ditames da loucura oficial entendemos não sermos merecedores.

Estamos experimentado, conforme anunciado, a saída da era de Peixes e o ingresso na era de Aquário.

O movimento Hippie - o consagrou e - a partir dai, se deu um impulso maior aos cuidados humanitários.

Medicina Ayurvédica, acupuntura, naturismo, amor livre, questionamento das fronteiras políticas, cuidados ambientais, a busca pelo sagrado (sem igrejas - numa conexão direta com o divino - Cristo pregava isso), yoga .. etc ..

Tudo isso com uma boa dose de Sexo, Drogas e Rock and Roll.

Paz e amor - slogan imbatível e incontestável.

Pagamos caro mas a humanidade ganhou em luz.

Os Maias prenunciaram o fim do mundo em 2012 (na real o Maias não dizem isso, apenas termina em 2012 - matematicamente - seu calendário)

Já presenciei outros fins-de-mundo.

... pra mim nunca acabou ...

Dizem o sábios astrólogos que - desta vez - se trata de uma mudança profunda - provocada pelo aumento abrupto da consciência, justificado por algumas configurações planetárias e cósmicas.

Esse fenômeno, por sua vez poderia desestabilizar crenças e conceitos dogmatizados e consagrados.

Isso desestabilizaria crenças e valores norteadores das condutas e comportamentos preconizados.

Sabe-se lá.

Particularmente acho que a adoração ao fim-do-mundo é a busca da indolência e do fim das responsabilidades humanas.

É apenas um bom argumento para jogar a toalha.

Sem mais me alongar - pois estamos no campo do intangível, imponderável, sujeitos a uma avalanche de variáveis sem precedente.

Assunto, aliás, muito difícil de tratar, pois criamos visões relativas onde os universos individuais criam realidades independentes.

Mesmo assim, a busca pela verdade - por mais que doa - é incansável.

Verdades absolutas são maiores que nosso entendimento.

E, usando do o direito “paranifático” de aconselhar:

- Cultuem e questionem suas próprias verdades.

- Não tenham vergonha de mudar de idéia.

- Não temam quando forem criticados pela autenticidade.

- Não se prostituam espiritualmente.

- Acreditem na prosperidade - não pode ser apenas financeira - trata-se da integralidade humana.

- Sejam inteiros, atentos - errem, mas não vacilem.

- Fiquem conectados, mas nunca aprisionados.

Segundo um ditado Tolteca .. “Não acreditem em nada, mas prestem muita atenção”.

Pois bem caríssimos .. uma bela jornada os aguarda.

Espero do fundo de meu coração que, a passagem por esta casa tenha lhes tirado o sono, tenha lhes desacomodado a alma, tenha provocado uma compulsiva curiosidade, tenha lhes mostrado que são muito mais o que sentem do que o que sabem ... e que a "dita" loucura individual é o diferencial que os faz únicos, impares, exemplares, inigualáveis.

É o diferencial competitivo que faz a real diferença.

O jogo tem regras, são regras simples, algumas burras outras perversas, mas .. não é difícil.

Sonhem, construam e materializem essa visão, planejem .. sejam estratégicos .. não percam o foco.

- Mudem seus sonhos sempre que sonharem algo melhor, maior.

- Não desistam por medo ou por vislumbrarem dificuldades.

- Aceitem os desafios .. sempre que eles se justificarem.

Prestem atenção na sabedoria popular e seus ditames.

Tem um que eu gosto muito - é um Provérbio Japonês – trata da atenção - diz assim:

"A gente tropeça sempre nas pequenas pedras, porque as grandes a gente logo enxerga."

Obrigado pelo carinho, pelo respeito, pela paciência, por me ouvirem, por me ensinarem, por fazerem parte da minha Net-Love.

Contem sempre comigo

Beijo na alma.


4 comentários:

saitica disse...

Eh Professor Paraninfo... você virou de costas para o fotógrafo porquê ?
abraços,
daniEu

enoi liedke disse...

Lindo texto .. feliz por mais uma vez teres sido paraninfo ..um reconhecimento ao que sempre transmitistes aos alunos .

beijos

enoí

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

lindo texto para ser falado, ouvido e até gritado!
beijo, adri.