terça-feira, 27 de novembro de 2007

O incontestável
paz na alma – 1º de outubro de 2006 – 1 hora da manhã

foto: Pablo Fabián - 1974

Dear Lady Jane
Acabei de te deixar em casa materna e retornar para este sobrado, ora aconchegante, ora instigante, ora assombrado.
Como sempre, transitas em minha mente com toda a liberdade.
O cheiro constante de tua presença, em mim, faz com que as dores que suportamos se dissipem e ocupem o pequeno espaço que a elas é destinado.
Foi um lindo fim-de-semana. Daqueles que sabemos curtir.
No fogo cruzado dos trabalhos, encontramos um equilíbrio que
nos desiguala dos demais, nos faz cada vez mais ímpares e, dessa forma, cada vez mais unidos.
Essa união que incomoda e emociona que nos permite, apaixonadamente, viver sem diferenciar, ódios e extases. Viver desconfortavelmente um amor sublime que nos desafia a entendê-lo.
Engasgados em nossos filtros paradigmáticos, tentamos inutilmente fazer-nos caber em modelos preconcebidos. Nossas mascaras libertárias são descortinadas, desestruturadamente, por pequenos “inimigos” sombrios que nos ameçam com ciúmes infantís e sonhos cinderelescos.
Que maravilhosos somos, que ridículos.
Que linda essa oportunidade que nos foi dada.
Que grato sou, por te ter em meu caminho.
Te ver em mim em cada gesto, em cada rusga, na defesa inconcebível de discursos sem nexo. Penso que não nos consumamos, unicamente, pelo medo que temos de que isso aconteça.
Sabemos que isso mudará radicalmente nossas vidas, nossos planos, além de destruir para sempre velhos padrões que usamos como muletas.
Hoje, pela primeira vez tive medo do tempo por achar que o estivessemos perdendo. Porém, percebí que estamos mergulhados numa relação que não para de acontecer. Talvés mais instigante e intensa do que qualquer outra que tenhamos tido. Por mais que subverta nossos planos, provoque inquietudes e nos faça querer mante-la escondida dos demais, ela se sobrepõe e ocupa, plena, os espaços que permitimos.
As vezes transborda.
Obrigado por tudo.
Um beijo na alma.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Rusgas de um só dia
gunga-din-don-doca – de 1990


foto: Pablo Fabián – arte: Roberto Fabián - 1975

Deus distante de um povo exuberante e guerreiro
Ricos
Miseráveis de um luxo efêmero e nauseabundo
Marimbondo
Ladrão milenar
Filho pródigo de um deus solteiro

Sapateiro ou engraxate

Da reza ao texto
do texto à reza – 18 de junho de 1998


foto: Pablo Fabián - 1975

A respeito deste texto
Muito sei do que mereço
Sem desrespeito à regra
Me supero pelo avesso
Me atrevo com respeito
Dou noticia, faço prece
Rezo com ces, com cedilhas
Ponho esse, duplo esse
Ponho letra
Faço prece
Ouço isso como um canto
Santo tango gregoriano
Vivo num tempo cigano
Onde o presente é passado
De adjetivados sujeitos
Comungam, indiretos, substantivos
Relutantes prefácios e pleonasmos viciosos
Sou repleto quando rezo.

domingo, 11 de novembro de 2007

Deuses e demônios
...sob o pó das estrelas... – 1987


foto: Pablo Fabián - 1979

Nos recantos cansados, estes
Onde repousam deuses-demônios
Existe, num deles, caído
Escondido sob o pó das tristezas
Um objeto de ouro brilhante
Encravado de esperanças
Colhidas do chão em caminhos
Onde os que foram, não voltaram.
Encontre essa jóia preciosa
E liberte seus deuses-demônios
Antes que eles te levem
A perder as esperanças
E partir sem consciência
Por esses caminhos tão claros
Que levam a terras escuras.

sábado, 10 de novembro de 2007

Retreta
invitación – 14 de dezembro de 2003


foto: Pablo Fabián - 1977

Rumbo romano, radiano extendido
Siglo cortado, sangrado, sufrido

Pido cuidado y sigo perdido
Soy capataz hermano alarido

Tacho rechazo remiendo el costado
Quemada paleta de asado venado
Luces de tierra, luces de mar
Días de suerte, días de azar

Quiero serpientes de muchos colores
Son mis zapatos rotundos amores
Vuelven sonrisas de muchos dolores
Sueña un recuerdo de todos sabores

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Santo Cotidiano
segunda semana
– 13 de janeiro de 1988

foto: Pablo Fabián - 1991

Atividade, esta, neurótica.
Santo cotidiano,
Demência plena de cegueira fosca
,
Rumos obscuros de manutenção de um nada,

Nada, este, cheio de loucura.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Chorei de rir

gastura – 1980

foto: Pablo Fabián - 1997

Chorei de tanto rir
Rir de me lembrar

Que ri pra não chorar

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Juntamos, jantamos e jogamos
day after – 02 de novembro de 2007

foto: Fernanda Fabián - 2006

Os núcleos reunidos
Juntos, diluídos
Em clãs vestidos
Soberbos estilos

Berinjelas recheadas
Cuscús Islâmico
Tomates, cogumelos
E vinho branco

Anfitriã morena de sorriso cansado
Tumulto alegre

Amor bandido

Silencio da noite
Sexo Sentido

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Medo do Mar
Netuno oposição Vênus e Ascendente – 1º de novembro de 2003

foto: Pablo Fabián - 2007

Medo do mar
Medo do ar
Do vento
Do tempo

Medo ao relento
Deixado a contento
Guardado em fermento
Relapso momento

Medo profundo
Lembrança que afunda
Medida imprecisa
Imagem turva

Medo do nada
Frio enfadonho
Lembrança difícil
Recado do sonho

Medo da perda
Perda de nada
Nada no mar
Mar de lembranças

Medo de hoje
Sal do passado
Tempo esquecido
Abandonado

Medo do medo
Astro em quadrado

Filtra o futuro

Deforma o passado

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Minha amante
...medo de perder-te... – 1986

foto: Pablo Alejandro Fabián - 1974

Do recanto ao canto,
Teu canto reticente,
Teu encanto borbulhante.

A luz que se apodera de minh’alma,
Vem, retruca e até acalma,
O borbulhar de minha euforia incandescente.

Entranha em minha mente,
O medo de teu relutante vacilo,
O medo do vazio que me acompanha
Doente, constante, demente.

A justiça de teus olhos,
Peca cega, fugitiva, indecisa,
Teus lábios beijam rubros,
Momentos de silêncio,

O medo mórbido de tua retirada.

Os gabinetes silenciosos
tinta verde -
inverno de 1977

foto: Pablo Fabián - 1974

As pirâmides frias e pacientes
Repousam seus olhos nas areias escaldantes
As miragens se confundem
A realidade é árida
O espaço é o tempo
O silêncio dos detalhes é reduzido pelas sombras
Seus desejos e medos soam cristalinos entre um vento e outro
Sobram os que amam
Os que desejam
Os que só enxergam o que existe
Uns sorriem,

Outros são tristes.

domingo, 21 de outubro de 2007

Santo das trevas
súplica – novembro de 1986


foto: Pablo Fabián - 1988

Consciência, esta, que retratas, todos os dias.
Carismático ser de asas negras,
Epidêmico sentido,
Devastador de almas,
Guardião da rebeldia.

Ao dia claro vacilas
Sucumbes com a noite
O amanhecer do dia

Teus reflexos são estrelas
Teus movimentos dominam

Iluminado ser da noite,
Carismático ser de asas negras,
Asmodeu será teu guia?

Dor, esta, a que não sucumbes
E te ilumina a rebeldia,
Santo das trevas

É Deus que te guia.

O ego nosso de cada
regurgitar do trovão – verão de 1984

foto: Daniel de Andrade - 1992

Meu ego pedaço, meu laço com a vida,
Meu ego verdade, talvez sucumbida,
Meu ego inflado é quem me sufoca,
Deixado de lado é dor é derrota.

Reviso meu lastro, meu resto de vida,
Retrato de vida, passada, vivida,
Meu resto meu trapo, meu laço sufoca,
Inflado meu lastro, meu ego é derrota.

Laçando o pedaço, inflando o retrato,
Passando a derrota na ponta do laço,
Deixado de lado meu ego inflado,

Meu rastro, meu laço, derrota é vida
.


sábado, 20 de outubro de 2007

O tempo do tempo
...lúcidos alucinógenos... década de 80


foto: Marco Quintana - 2007

Existem momentos, que são
Maiores que dias ou até meses.
A gente acorda na janela
E a luz nos sai dos olhos,
Como fachos de felicidade.
Existem dias que a gente nem acorda
E depois, nem vai dormir.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A forma do tempo
...lúcidos e disformes... – 1986




foto: Pablo Fabián - 1978

“O demônio fugiu da forma. Sacrificou-se tanto que, quase, voltou ao céu canonizado. Pobre demônio perdido em seu pecado”.

O cubo em si era incomodo.
Jogou-se numa pirâmide de lata,

Mas o barulho da lua o fazia chorar.

Quem resistiria ao incrível poder de sedução deste coiote?

A cratera clara em seu peito sangrava as carências do passado.

Quanto tempo havia passado?

Quantos lados tinha esse tempo?

Em quantos tantos de tempo sorria o que estava enterrado?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Estreito, restrito, retrato de um grito

...pouso noturno... – 07 e 19 de abril de 2004

foto: Pablo Fabián - 1975

Ávido abismo
Lírio vestido
Jorros da alma
Sonho assistido

Julgas pecados
Sonho vestido
Jogos profanos
Vício assistido

Lírica alma
Vício vestido
Sonho profano
Jogo assistido

Turvas quimeras
Trechos perdidos
Sonho do Vício
Lírio Assistido

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sentimentos esféricos

...Coca-Cola e LSD... – 1976


foto: Pablo Fabián - 1977

Enjaulado num pavilhão do tempo
Sentia o borbulhar dos pensamentos
Fugindo além das paredes

O cheiro da natureza

sombras de um dia de chuva – 1980


foto: Pablo Fabián - 1975

Olhei pro retrato dela
Com cansaço e desalento
Não é que não tenha tempo
Ou que ache a vida fácil
É que quando sinto o vento
Me revirando o cabelo
Revivo num atropelo
Meu passado constrangido
Talvez por eu ter fugido
Por não ter valido a pena
Guerrilheiro em quarentena
Funcionário da querência
Que até por ter competência
Acha graça da tristeza
Olhando o dia de frente
A favor da correnteza.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dos sonhos que sonhei
como é que não vais gostar de mim, se te abro assim a alma – 1985


foto: Pablo Fabián - 1979
Já perdi a conta dos sonhos que sonhei
Mas, ainda vivo seus enredos.
Justificativas não existem
Pode haver mistérios
Junto a este sonho rotundo
Organizo e mistifico os fatos.
Jurei, certa vez, a mim mesmo
Nunca moralizar às vivências
Jorraram vivências.
E São Francisco me acuda
Tentei não cataloga-las.
Juro que tentei
De todas as formas

Mas, foi em vão.

Pintô, tem que curtir!
das linhas de um desenho - uma noite de 1978

arte: Pablo Fabián - 1972

Naturalmente, sinto que vai fluindo
E mesmo que não transpareça algum sentido
É muito bom aproveitar o fluxo
E curtir o que pinta

Perda
putrefactas lembranças - verão 1985


foto: Pablo Fabián - 2005

Uma vez, perdi um bagre
Era um bagre pequeno, sem dúvida
E ficou, do lado de baixo do banco
Do banco do carro, duma velha Belina
Velha e acabada
Pois bem, o bagre fedeu
Fedeu tanto, que deu pra sentir no outro dia
Sobre o bagre inerte, uma multidão de moscas verdes
Banqueteavam-se e desovavam em volúpia
Interferi e arremessei o bagre aos ares
O bagre bichado
Colônias de vermes se apossaram das imediações do banco
Do banco do carro
Da velha Belina
Marrom metálico carcomido
Usei detergente, desinfetante
E dei tempo ao tempo
Os vermes morreram
E ali se integraram, fétidos aos odores químicos dos desinfetantes
Aromatizados artificialmente com uma mescla azeda e doce
Batizada de odor-maçã
Dos restos do peixe
Putrefacto e descaracterizado
Mais a mescla dos vermes aromatizados
Surgiu mais uma cultura possibilitando a gênese
De imperceptíveis demônios
Produtos da carne putrefeita
E dos mais nefastos vermes varejeiros
Já nauseabundo, deixo a porta, janelas e ventarolas abertas

Na esperança...

domingo, 14 de outubro de 2007

Sin apuro
“insights” – 1989

foto: Pablo Fabián - 1981

No te apures domingo,
Que hoy, todavía es sábado.
Y solamente al lunes descansarás.

sábado, 13 de outubro de 2007

Buscas
onde reside meu sucesso? – 1985


foto: Pablo Fabián - 1991

Fui buscar o futuro
Encontrei um futuro que se dizia o certo
E lhe perguntei:
Em que pedaço do espaço está o meu sucesso?
O futuro me disse que fosse virtuoso e fosse Cortez
Que o sucesso estaria a minha espera onde quer que eu fosse.
O futuro me deixou mais atado ao passado do que o próprio presente.
À medida que compreendia o que me houvera dito
Estava o dito pelo não dito
E era como se me houvesse, o maldito, nada dito.
Segui vagando pelas escadarias e labirintos do meu passado
Tentando encontrar, realmente, o futuro
E o encontrei olhando às nuvens
Perguntei-lhe o que me reservava.
Disse que me sentasse e quando ele a mim chegasse
Eu notasse ou perguntasse.
Segui caminhando e falei com uma fração do tempo
E antes que eu pudesse perguntar
Ela passou correndo e me disse que eu parasse de procurar
Pois, senão, jamais encontraria

Era o presente....

Don Pablo Fabian.
foto: Romualdo Rurico Resquin Sicco - 1977
Tenho gostado do seu blog. Tomarei precauções no que doravante passarei a escrever ou dizer quando este dizer ou escrever se refira ao amigo portenho. Observo no seu blog uma quantidade razoável de boas fotos da sua, minha e de outras autorias. A foto do Ze e Pablo é de 1990, se não for de 1990 é de 1990.Procurei a carta resposta mas não encontrei, anunciar simplesmente basta? Anunciar já é a resposta ?
Fica o dito por não dito? Esperar não é ficar à espera ?
Seus versos biliares continuam a la Pablo diverticulite. Digo, sempre gostei da sua criatividade e desprendimento, sempre nos levam a concluir, seria o poeta um poeta, seria o poeta muito doido ou, poetar não tem limites ?
O bom de tudo é que existem várias faces na cara do poeta, do fotógrafo, do professor e do fiodeumaégua.
Tenho visto fotos de quase toda sua família, nunca foto da D.Maria Del Carmo, digo, da sua mãe. Se eu fizesse um blog a minha também não constaria. Diga-me lá, "viajarão juntos o caixão e o defunto?" ...
Consulta, quer abrir espaço para fotos ?
Há braços há pernas,
Daniel de Andrade-Gaia


Amigo amado e irmão de alma....

foto: Pablo Fabián - 1981

Daniel de Andrade tem sido um apoio (como sempre em minha vida) na elaboração descuidada e desregrada deste blog. Ele adora descuidos e negligencia às regras. Buscamos e vão a carta que me enviou que gerou "Oclahoma sem destino" e assim, não podendo apresenta-la, Daniel me envia uma contribuição atual, que data do século retrasado referente a Dona Safira que em parte tem a culpa de sua existência.

Pablo Fabián

para ver Daniel de Andrade: www.saitica.blogspot.com

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ananóias
... – 20 de novembro de 2001

foto: Daniel de Andrade - 1992

Ananóias sempre fora um bom profeta. Mesmo naqueles invernos de turvar a visão ele era certeiro. A riqueza de detalhes era colossal.
Lembro, certa vez, quando ele convalescia do primeiro acidente de escada rolante, ao me ver, pegou delicadamente minha mão e citou, murmurando, um longo poema, em armênio antigo, que falava da importância de sermos apenas e com toda a intensidade, unicamente, o que somos. Fiquei perplexo com a exatidão das palavras que refletiam exatamente o seu sentimento ao cair magnificamente da escada rolante da Mesbla.
Voltei pra casa com aquelas palavras retumbando em minha mente e tudo que eu via era a cara do Ananóias balbuciando, entre pequenos gemidos, aquela jóia do pensamento armênio. Liguei imediatamente para a Lurdette, pois havíamos combinado almoçar juntos, e contei-lhe em poucas palavras o conceito profundo do poema entrelaçando com o ocorrido ao Ananóias. Ela ficou muda, pensei: celular ainda não existe por tanto não pode ser a bateria, - “Lurdette, Lurdette, você ainda esta aí?”
Muitos anos se passaram e Lurdette, então, não fazia mais parte de minhas preocupações. Há alguns anos encontrei o Libório e soube por ele que Lurdette havia casado e estava morando na Bélgica. Achei estranho, pois ela odiava a Bélgica. Num instinto investigativo fui buscar alguma pista nos álbuns de fotografias. Lurdette rindo, fazendo caretas, nua dormindo, cozinhando, nós dois no Parque Saint Hiliaire, o verão de barraca em Magistério, mas nada que pudesse me dar uma indicação de não sei o que.
À noite acendi uma ponta, que a Josianne havia deixado no cinzeiro, e liguei a TV. Para minha surpresa lá estava o Ananóias, no programa da Yvete Brandalise sendo questionado por seu perseverante hábito de cair de escadas rolantes. Ele estava todo enfaixado, seu lábio inferior um tanto inchado provocava um sibilar irritante, mas, mesmo assim fiquei fascinado por aquela magistral presença, ali na minha casa, dentro de minha TV. Por uns momentos fiquei viajando, sem prestar atenção ao que dizia, pelas ardilosas lembranças de nossas memórias. Ananóias teve um papel importante no meu discernimento.
Levantei o volume e fui até a cozinha pegar algo para comer quando escuto aquele familiar poema armênio dito, não murmurado balbuciantemente como da última vez e sim, numa versão sibilada.

Mais uma vez me impactou profundamente e foi no meio desse impacto que a Josianne chegou. Jogou as coisas sobre a mesinha da sala e veio com um sorriso cansado me dar um beijo de “oi”. Não consegui corresponder e contei-lhe sobre o Ananóias enquanto a
TV tentava me vender um “super ultra plin-plin-plin plus versão máster”,....................

OCLAHOMA SEM DESTINO

carta resposta para Daniel de Andrade ..... 23 de agosto de 1999


foto: Pablo Fabián - 1974

Quem detêm o para-plexo, do reduto sem reflexo, tem no peito uma quimera, escorrida como hera bem debaixo dos narizes.
Nas campinas e outros pagos, tenho visto com meus olhos, coisas que a boca nada diz. Coisas de torcer o nariz.
Entretanto a nuvem baixa, se entrelaçando com o campo, como um tango retorcido ou um punhado de fumo. No escuro ou manhãzinha lembro o frio de uma calçada que não fosse a parceria, hoje em dia lembraria como triste e medonho. Já passado como um sonho, a lembrança está na foto que tiraste deste amigo. Levo essa foto comigo, ou a colei em um álbum, o que importa é o espaço que dedico a esse amigo.
As vezes, não ver-te é esquisito, ainda mais sabendo o quanto te vi. As vezes faz parte das coisas que nunca ficam pra traz, que vem junto com a gente independente do dia. É aquela coisa que a gente pensa em contar e fica satisfeito de ter pensado e parte correndo pra outra como se estivesse apressado.
Ligeiro pra não fazer nada, pra repousar na vida e pilota-la deitado ou olhando pro nada. Êta pressa que eu tenho pra parar de fazer.

Se eu fosse baiano e tivesse nascido assim, sem o tal do complexo de culpa, acho que me aposentava, comprava uma rede e um chinelo macio, ficava na beira do rio contando pro rio histórias do asfalto, da gente de salto, dos que olham do alto ou moram no alto de torres absurdas.
É caro amigo Daniel Boy, a vida se fez macia. Depois de uma coronhada tem coisa que não importa.
A gente sabe que a porta protege bem pouquinho. E a tela que tem na janela é pra mosca não sair.
O tempo é uma bobagem que um dia eu inventei. Te peço um milhão de desculpas se algum dia te enganei, pois acreditava que o tempo estava ai quando nasci.
Hoje trabalho pouco, mas ando muito ocupado, deve ser porque não trabalhar, também dá muito trabalho. Vira e mexe estou na serra, na planície ou no planalto. E é tudo igual. Uns são mais iguais que outros, mas dá tudo no mesmo.

Eram duas vezes......

Reflexões do escritório de fazer tema de casa
O mundo já acabou um monte de vezes e a gente deu risada.
Atirei um pau no gato de pesado foi ao fundo...
Não foi por pouco que estamos os dois neste mundo!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Revisão acadêmica
discurso de aposentadoria - 12 de setembro de 2002


foto: Daniel de Andrade - 1983

Olhando pros anos à frente
Vejo o futuro em lampejos
Que sejam todos felizes
Realizando seus desejos


Aqui vim sem convite
Pra dizer-lhes o que penso
Lamento se com palavras
Deixo algum presente tenso


Nestes anos acadêmicos
Aprendi a me calar
Percebi que esta casa
Não foi feita pra sonhar


Conheci a ditadura
E a falta de vergonha
Contrariei esses canhões
Fumando muita maconha


Pra muitos era uma fuga
O caminho da alienação
Mas na verdade era o jeito
De não perder a razão


Fiz panfletos subversivos
Dentro desta reitoria
Fiz teatro infantil
E muita patifaria


Eram os anos de ferro
Jovens na revolução
Que perderam a vida
Pra defender a Nação


Os anos foram passando
E a Nação acordou
O coração da moçada
Verde e amarelo brilhou


Reconquistamos o hino
E a bandeira com destreza
E ganhamos de herança
A ignorância e a pobreza


Numa escola viciada
Por anos de corrupção
Com um discurso vazio
Que não chega ao coração


Surgiram muitos partidos
Movimentos vingadores
E com camisa de força
Nos tornamos doutores


Cientistas preservadores
De uma elite cultural
Servidores em greve
Por um salário banal


Algumas mentes brilhantes
Brigam pra resolver
Um jeito que seja digno
Da gente, sobreviver


Outros, acomodados
Rezam pra não mudar
Cinderelas acadêmicas
Que não querem trabalhar


A história está escrita
Na decrepitude estrutural
Dos prédios de arquitetura
De um período colossal


Nesta casa envelhecida
Neste mesmo local
Deixamos para o futuro
Um patrimônio oficial


Cultura de um dia-a-dia
Desenvolvimento da ciência
E pra aqueles que ficam
Dose dupla de paciência


Tenho ouvido muitas queixas
Muitas palavras que mordem
Discursos estruturados
Na mais profunda desordem


O tempo passa e a escola
Vai cumprindo seu legado
Ensinando essa moçada
A ser um desempregado


Não culpem apenas a escola
Nem o seu professorado
O pacto de mediocridade
Por todos foi assinado


Tivemos até ministro
Ostentando doutorado
Levantou-se muita poeira
E ficou tudo arrasado


Ainda olho pra frente
Não me sinto derrotado
Cutuco os paradigmas
De um ensino ultrapassado


Sigo o caminho lutando
Com um discurso humanista
Sofro muito com isso
Meu coração é anarquista.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Não é coisa de pai bobão
...noite de domingo frio com Beatriz – 22 de maio de 2005


foto: Pablo Fabián

Nesta casa mora uma deusa
De encantos além da conta
Deixa-me boquiaberto
Com cada coisa que apronta

Luminosa e carinhosa
Veio dar o seu recado
Convicta e resoluta
É o presente ao meu lado

Ao nascer tinha um sorriso
Pros médicos, contratura
Mas com o olhar nos provava
Ser de amor e doçura

Dependente e autoritária
Corro pra todo o lado
E com sorrisos e beijos
Faz de mim um escravo

Aos céus me elevo e dou graças
Pelos filhos que tive até então
Pois tatuaram suas almas
No fundo do meu coração.

domingo, 7 de outubro de 2007

A, E, I, O, Uto...
exercício de rima – 12 de novembro de 2002


foto: Pablo Fabián - 2003

A respeito do contrato
Faço, reato e trato
Aventura de um retrato
Que concebo neste ato

Observo este dueto
Na estrutura me remeto
Acho o espaço neste gueto
Vou comendo o que cometo

Acordo cedo, fico afoito
No relógio já são oito
Café com leite e biscoito
E a lembrança de um bom coito

Loteria, sena e loto
Faço prece, faço voto
Ganho pouco, muito arroto
No momento sou devoto

A respeito do reduto
Reluto e uso luto
Suicídio em viaduto
De um vacilo resoluto

sábado, 6 de outubro de 2007

Santos de um cotidiano não preservado
referências fatais – 10 de maio de 2002

foto: Pablo Fabián - 1980

Na relutância branda de tu’alma espessa;
Nos mais profundos recônditos de tua formosura;
No repetir impertinente de tua doçura,
Vejo os reflexos opacos da dor que plantas;
Nas noites claras de tua loucura.

Serpente sinuosa de águas cristalinas;
Âmago consistente que sustenta o riso;
Retrato prolixo de uma amargura.

Sentada à beira da exuberante flora;
És fauna solitária no solidário clima;
Teus olhos fechados me privam;
Das mais ardentes tempestades.

Vem, brinda ao Sol tua existência;
Lava tu’alma na chuva fria;
Sorri;
E brinda o clímax.

Olha pra trás condescendente;
Vê as flores que pisaste;
Pede ao Pai que te ilumine;
E olha pra frente sem medo.

Cântico escondido que tens na alma;
Sonhos que negas acordada;
Despertar confuso que espedaça;
As memórias do que serás um dia.

Olha-te ao reflexo;
Aprecia a obra divina;
Vê que ao teu lado;
Estão a mulher e a menina.

Santa estrangeira sem cotidiano;
Mega estrutura de consciência escura;
Solta a menina;
Cospe a amargura.

Dança sozinha no claustro;
Vê que tens companhia;
Retoma a odisséia;
Do viver todo o dia.

Nada é excludente;
Tudo é harmonia;
O que tens na mente;
É sabedoria.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Clös dominia echo en astho
...astho encilio – by Estrulio Trolho – II X MMIII


foto:Julio Cutz – 1978 /arte:Pablo Fabián - 2007

Cunto livio antho en cuanto
Lurdo kluwskö restroena
Anto en cuanto clivio
Reaturdo restrovena

Inclábio palpiturno
Restrino en cuanto clivio
Mazlanea simultea
Irstricto lazzo cívio

Percabulas prepotante
Restracenas politurbio
Icludas retastuveas
Kläs putrás missurbio

Hipofanas nefecínas
Niestrasilfas dramuralhas
Incrosto clasto politurbo
Astracenas fractatulhas

Visto mictante
Limbio rustructo
Trono campante
Spatrada intructo


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Infame ironia

homo-sapiens emocionalis – verão de 1984

foto: Pablo Fabián - 1975

Do soluço ao custo infame da ironia.
Que mania essa que contemplas?
Imerso em ti mesmo como se fosses algo.
Disperso em si, como vento ao vento.
Atento assim como distraído.
Solto, falso, livre, prisioneiro da liberdade.


O tempo que vejo
...agrupado em um tempo qualquer, vendo á vida num álbum de retratos... década de 80

foto: Pablo Fabián - 1978

Olho pro tempo e
Vejo no tempo,
O tempo em que olho.
Perco no tempo,
O pouco que vejo e vejo que perco,

O tempo em que olho.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Demonio de Dios
instigando el alma – 1985

foto: Julio Cutz - 1978

Demonio, demonio de Dios
Que vives en zonas oscuras
No me quites la luz y ni me des amarguras
Reflejos en negros espejos
Tu alma tan carda
Permite que de ti yo me aleje
Y tenga dentro mi la luz
Mismo que atado en tinieblas.


Um pouco de manhã
...ilusões... década de 70

foto: Pablo Fabián - 1980

À noite planejamos a vida e

Pela manhã mais nada nos resta.
Um pouco de sono e a lembrança de uma seresta,
Que prometia uma vida melhor.